sábado, 16 de dezembro de 2017

Coisas do ser humano

São coisas da nossa vida.
Quando se é criança e não se tem noção de como giram as coisas, tem-se uma visão das coisas. Tudo parece livre e a natureza parece ser uma festa, mesmo que não tomemos parte dessa festa. Parece que a atmosfera é aquela abóbada alegre em todos os sentidos e nós vamos vivendo conforme o soprar dos zéfiros mornos das tardes de verão e gélidos das manhãns invernais. A vida parece sorrir de todas as bandas.
Á medida que a nossa idade vai avançando, começamos a pensar no como será o dia de amanhã e o que estaremos fazendo quando esse amanhã chegar.
Eu era assim. Vivia lá onde nasci, quando criança, despreocupado. A vida era de pobreza mas parecia transcorrer sem problemas. Eu não tinha com o que me preocupar. Disseram-me um dia que eu quase passei desta para a outra por motivo de saúde debilitada. Possivelmente a minha alimentação era muito deficitária em nutrientes e meu pai, lá nos cafundós da vida, corria atrás de curador (curandeiro), para me arribar. No lombo de seu cavalo ele percorria desconhecidos caminhos, conforme indicações de seus amigos para buscar quem me socorresse. Para sua felicidade ele conseguiu um que deu a ele uma orientação e ele a seguiu. Fato é que eu estou aqui, oitenta e dois anos depois, escrevendo estas notas e me sentindo um ingrato para com ele e a minha mãe, pois, aos vinte e um anos saí de casa, em busca de um rumo na vida e praticamente só voltei lá para participar do seu enterro muitos anos depois e da minha mãe fui ao velório aqui em Osasco, alguns anos mais tarde.
Isso mesmo. Filho ingrato eu me julgo por isso. Dveria estar mais em contato com eles e não estive. Dívida impagável essa minha.
Agora vejo os dias passarem e sinto uma espécie de solidão, mesmo estando entre pessoas. A vida não me é cem por cento legal. Há um ranço no fundo da alma que não me deixa sentir-me feliz.
É o que não deveria ser. Só agora, muitos anos passados, vejo a ingratidão cometida para com aqueles que lutaram tanto para que hoje eu estivesse aqui.
São coisas da vida de um ser humano.

Um comentário:

Otaviano disse...

Caro sr. Domingos, muito comovente esse seu relato. Como pai e avô que sou também já tive esses sentimentos e pensamentos. Na verdade jamais conseguiremos retribuir aos nossos pais tudo o que eles fizeram por nós por mais que tentemos, e sempre nos sentiremos ingratos por te-los abandonado e procurado seguir nossa própria vida, porém Deus, em sua infinita sabedoria, nos deu a bênção e privilégio de passarmos adiante tudo o que recebemos de nossos pais como forma de lhes ser gratos, Deus nos deu o dom da criação e de sermos com Ele participantes de Seu eterno plano. Podemos ter filhos e fazer por estes tudo o que nossos pais fizeram por nós e assim passarmos adiante o bem e o divino. A paternidade bem como a maternidade são bênçãos que nos permitem demonstrar toda nossa gratidão aos nossos pais e ao próprio Deus. Bom início de semana.

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